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quinta-feira, 10 de julho de 2014

ღ Capítulo 11 ღ

Sentindo-me ainda culpado com o que aconteceu com Savana, propus que ela passasse alguns dias na minha casa já que ficava próxima ao trabalho e a faculdade, isso até se recuperar totalmente.
Alguns dias depois ela já estava recuperada e nossa rotina já havia se organizado melhor, mas não a deixei e ir embora. E assim ela morava comigo. Alguma coisa nela pediu que eu cuidasse e protegesse, e aquilo me assombrava de modo que unicamente o que eu queria era ela longe de mim, mas como?
Eu precisava estar só, apenas eu e minha nova realidade que estava prestes a vir, eu não queria que ninguém que desse palpites ou se compadecesse de mim, olhar de encorajamento era tudo o que eu menos precisava naquele ou noutro momento da história.
Segundo Luana, faltava-me pouco mais de quatro meses para que tudo entrasse no fluxo programado.
Mas qual seria a reação de todo mundo? Isso eu teria que pagar pra ver. E era isso que não me saia da mente e tirava meu sono todas as noites. E ao tentar dormir, ao abrir o olhos era Savana que era minha realidade, era ela quem aninhava-se em mim.
Como ela iria viver sem mim eu ainda não fazia ideia, não queria machuca-la ainda mais, mas de algum modo iria afasta-la de mim.

Em uma noite levantei tonto, estranhei pois há mais de duas semanas não bebia, cheguei a tombar e bater na porta do quarto,o que fez Savana levantar num sobressalto.
- O que houve? - ela perguntou.
- Nada, vai dormir.
Sentei na cama e ela se aproximou, passou a mão na minha testa em forma e carinho mas acabou levantando a voz quando notou minha febre.
- Você estar com febre, muita febre.
Aquelas foram as últimas palavras que lembro ter escutado. Acordei um tempo depois e já estava claro. Ela estava  do meu lado na cama e se animou ao me ver acordar.
- Oi, baby. -  minha voz estava pesada, cansada.
- Oi, amor. - Ela nunca me chamou daquele jeito e ao falar me quebrou inteiro - O que aconteceu comigo?
- Queda d pressão, mas eu cuidei de você.
- E não me levou à algum hospital, não chamou socorro e nem acionou a S.H.I.L.D?
- Eu não queria ver um pronto socorro vindo abaixo com um soco que você me daria, muito menos sendo processada pelo Nick Fury por machucarem o Hulck. 
Me assustei e acabei rindo, ela foi sarcástica e não fez drama como imaginei. E era tudo o que eu menos precisava ali, ter vontade de beija-la por horas. 
No mesmo dia liguei para Luana e ela me confirmou que o que havia acontecido foi devido a estresses. Eu precisava ficar bem e longe de mais estresse, mas estava próximo a passar por um dos maiores da minha vida.
Liguei para Lia e Mat e marquei uma reunião para a manhã seguinte. A gravadora teria um destino.

terça-feira, 29 de abril de 2014

ღ Capítulo 10 ღ

Cheguei e fui direto pra gravadora, Lia e Matt já estavam lá e como sempre, estavam no meio de uma discussão que de longe já seu ouvia.
- Ou vocês se calam as bocas e só abrem quando souberem o que irão falar e a vez, ou vão embora os dois daqui e só voltem quando estiverem normais, se é que isso é possível.
- As vezes você é um babaca. – Lia falou me encarando.
- Correção, sempre é um babaca. – Logan concordou.
Eu os olhe e dei as costas saindo, eles podiam brigar sobre tudo, mas na hora de falar mal de mim eles concordavam. Eu já havia me estressado bastante nos últimos duas e não precisava de mais motivos e sinceramente não estava nem um pouco afim de falar o que estrava com vontade. Subi na moto e acabei pegando a contra mão, mas rápido cheguei ao bar que queria. Já estava no segundo copo de whisky quando uma mão puxou meu copo, era a mão de Moon.
- Vale a pena, moço? – Ela me perguntou sentando do meu lado.
- Não te interessa o que vale ou não vale a pena na minha mesa. – Respondi.
- Como sua...
- Como nada minha, nada. – a interrompi.
- Mas, Dave...
- Não começa, faz favor.
- Eu tenho motivos e moral para falar com você.
- Não, não tem motivo algum. O Primeiro é o fato de você estar em um bar sendo você quem é. Então procura-se moral em você para corrigir a mim e meus atos.
- Você está me vendo beber?
- Ah, veio ao bar rezar ou catar almas regeneradas como a minha? – ela se calou.
- As vezes não da pra ter uma conversa saudável com você.
- E pra que ainda tenta?
- Eu ainda acho que vale a pena arriscar algumas fichas em você.
- Investimento errado, doutora Luana.
Sai mais uma vez sem me despedir de quem deixava falando só naquele dia. Mas dessa vez deixei com um peso na consciência. Luana era uma pessoa importante e especial na minha vida. Atendia pelo apelido de Moon, mais que merecido por ser alguém tão mágica. A passagem e permanência dela na minha vida era tão marcante que precisei voltar ao bar e abraça-la apertado de forma de me desculpar.
- Eu não estava bebendo, estava indo falar com você e vi o modo que saiu da gravadora, então resolvi vir atrás de você. Precisamos conversar, estamos perto da data.
- Eu sei, eu sei. Não quero me lembrar desse fato agora. Ando cheio de problemas, a gravadora está complicada de administrar e como se não me bastasse isso, tenho uma garota de vinte e dois anos pra cuidar.
- Vinte e dois? – ela riu.
- Sim, e pra variar sofreu um acidente por minha causa. Juntando tudo isso é impossível estar bem.
- Você já conversou com todo mundo?
- Não, nem vou. Ainda tenho alguns anos.
- Claro que não, você tem pouco mais de um pra resolver tudo.
- Tudo bem, mas não vou falar agora. Sei que você vai falar que é importante e que devo fazer isso, mas preciso só de um tempinho para resolver isso e deixar tudo certo, então conto a todos.
- Essa menina, é importante? – Ela perguntou de modo curioso.
- Isso não vem ao caso. Mas vou resolver também.
Conversamos o resto da manhã e algumas coisas que ela me falou e mostrou só reafirmaram o que eu já sabia e queria. E só me encorajou ainda mais a não desistir.


ღ Capítulo 9 ღ

Estava envolvida num cobertor e a perna imobilizada numa almofada. A observei por uns instantes, a presença dela ali era tão tranquilizadora quanto eu desejava. O quarto estava da forma que lembrava. Papel de parede, poltrona, armário, até mesmo a posição da cama.
Sai, tomei um banho de cerca de trinta minutos. Voltei ao quarto e ela ainda dormia. Sentei ao lado dela e a puxei devagar até deita-la nos meus braços. Acariciei o rosto, os cabelos. Decididamente se algo sério tivesse acontecido a ela, eu não me perdoaria jamais. Ela era minha Baby, tão minha que me confundia totalmente. Não demorou pra ela acordar e já tentar se soltar de mim.
- Para, para, para. Fica quieta. – Eu falava a segurando com força.
- Não, me solta. Faça esse favor.
- Faça você o favor de ficar quieta. – Segurei com força e ela desistiu lutar. - Você está melhor?
- Poderia estar se você me soltasse.
- Sai da defensiva fazendo um enorme favor? Você não combina com isso. E por favor, não faz mais isso comigo. Não tenta se matar na minha frente. Você sabia que a moto estava com problema e não deveria ter acelerado daquela forma. – Ela se encolheu visivelmente envergonhada. – Porque fez aquilo? Me batesse, continuasse me xingando, mas não fizesse a idiotice que fez. Se algo mais sério tivesse acontecido com você, acha que me sentiria como? Não suportaria a ideia de ver você mais machucada do que está agora, e não falo só da pele, falo das feridas que eu casei com meu modo de agir. Por isso peço que me desculpe.
Ela me encarou escutando tudo o que eu falava. Meu timbre de voz estava calmo e eu estava tentando ser o mais sincero possível, forma que nunca tinha agido com ela antes.
- Me desculpa também, fui irresponsável, mas estava muito chateada com você.
- Eu sei.
- Amanhã meu pai vem me buscar.
- Não vá, fique comigo. Só daqui cinco dias vou embora.
- Não, Dave. Uma coisa é nos resolvermos e outra é passar por cima do que houve.
- Não fique por mim, fique pelo tio. Vi que vocês se gostaram.
- Sim, ele é maravilhoso.
- Então fique com a gente, por favor.
- Vou pensar, amanhã resolvo.
Ela se arrumou perto de mim e voltou a dormir em seguida. Não sabia o que tinha que fazer, mas sabia que tinha que ficar com ela.
No outro dia ela decidiu não ir, o que serviu de completa alegria para meu tio que a mimava como se ela fosse uma filha caçula para ele, e louco estaria eu se falasse alguma coisa sobre como ele estava a tratando.
Culpado do acontecido e mesmo que minha cabeça tentasse falar que não eu sabia que ela estava certa em estar chateada comigo, prometi tentar mudar o modo que eu tratava Savana só pra não passar pelo que estava passando naquele momento, ou será que outra atitude seria a melhor e mais sensata naquele instante?
Os quatro dias que se passaram ainda ali, foram por horas um tormento, a frieza dela comigo me entristecia, mas me enfurecia também. Por vezes tive vontade de manda-la embora, mas faltava-me coragem.
Quatro dias depois, no horário de almoço ouvi uma voz que me fez tremer, aquela voz elétrica e risonha. Era a Rebeca.
- Encontrei essa mocinha procurando por minha casa, vejam que coisa boa. – meu tio segurava a mão dela. – muito bonita sua amiga.
- Obrigada tio. – Savana falava abraçada com os dois.
- Oras, vejam só. Se Não é Rebeca quem chegou aqui. – Eu disse acenando pra ela.
- Oi, Dave – com o riso eterno ela acenou de volta pra mim – Estão todos bem?

Rebeca foi buscar Savana, já que eu não podia leva-la mais na moto. Chegou um dia antes pra passar a noite com a amiga e muito provavelmente me irritar. No outro dia formos embora, Rebeca com Savana e eu na moto. A despedida foi longa e visivelmente meu tio havia se apegando a Savana e eu não pude fazer nada, além de me sentir bem.

quinta-feira, 13 de março de 2014

ღ Capítulo 8 ღ

Segundo dia do ano e Savana estava na casa dos pais, tínhamos todos aproveitados os dez primeiros dias do ano para viagens e pequenas férias. Resolvi ir até Phoenix visitar meu tio, a conversa de dias anteriores me fizeram sentir a vontade de visita-lo.
Sturm estava pronta pra viagem, e eu de alguma forma aliviado. Assim que cheguei, na frente da loja, um misto de lembranças, boas e ruins me invadiram. E como esperado, meu tio estava lá a minha espera, nos cumprimentamos como sempre fazíamos e a eterna conversa sobre motos nos tomaram bastante tempo. Conheci o Phil, o novo ajudante do meu tio, que cuidava da administração da loja.
Reservamos o restante da tarde para irmos ao bar que ficava a duas quadras da loja. A conversa estendeu-se pela noite e só chegamos de madrugada.
Acordei depois, meu tio estava batendo na porta do meu quarto, que continuava intacto. Já havia algum tempo que não bebia da forma que bebi na noite anterior, por tanto estava com uma dura ressaca e muito mal humorado.
- Tem visita pra você na sala. – Meu tio avisou.
- Pra mim? Quem droga está ai?
- Não sei, acabei de conhecer. Mas bela garotinha você tem, hein?
Não poderia ser quem eu estava pensando, como ela tinha chego ali era a pergunta que me tomou naquele instante. Cheguei na sala tonto, só de calça e com o humor pior ainda.
- Como você me achou? – Perguntei assim que a avistei.
- Oi. - O entusiasmo dela era notável a quilômetros de distâncias.
- Como você me achou? – Tornei a perguntar.
- Cheguei de viagem e fui te procurar, mas você não estava e o porteiro do seu prédio falou que você havia viajado. Tentei te ligar, mas não consegui. Então falei com a Lia e ela me falou onde você estava, e bom, chegar aqui e achar a loja do seu tio não foi nada difícil depois das dicas da Lia, chegando lá o Phil me ensinou a casa e aqui estou. Quis te surpreender.
- Eu gostei muito. – Meu tio falou abrindo uma lata de cerveja e nos observando como espectador, ele provavelmente sabia o que viria pela frente.
- Eu vim pra passar os dias que você ficar aqui com você.
- Como é? Vim sozinho e continuarei sozinho. Você nem deveria estar aqui. Você não estava com seus pais?
- Mas Dave...
- Mas nada. – A interrompi. – Eu disse a você que você não viria aqui comigo, lembra? Eu disse que um dia quem sabe te traria aqui. Agora vai embora.
- A garota vai ficar. – Meu tio interviu quando notou que Savana ficou acuada parecendo criança – O que é isso, Dave? Não se fala assim com a namorada.
Peguei a chave da moto que estava na mesa de centro e já estava saindo quando Savana foi mais rápida que eu e ficou na frente da porta impedindo minha saída.
- Para ai agora, meu bem. – ela gritou firme – Cansei das suas grosserias, ignorâncias e explosões do nada. Com você só faço coisas para te alegra, para te agradar, mas nada, absolutamente nada que eu faça é bom o suficiente para evitar que você simplesmente exploda o mundo e queira me explodir junto. Nunca te pedi nada em troca do que fiz e faço, mas um pouco de educação não te fariam mal. Mas você não sabe o que é isso, nem se quer se esforça pra tentar entender que o que eu faço é pra você, mas você sabe o que é pancada, pontapés e o diabo todo. Certo, nunca reclamei, mas acho que já chega, não é? Fique ai com suas grosserias, curta sua bebedeira, e minha distância, que será bastante presente para você. E eu vou embora sim, atendendo o seu pedido. Nunca mais farei surpresa, carinho, nem porcaria nenhuma que envolva você. Ah, e vá para o inferno seu idiota grosseirão.
Ela beijou o rosto do meu tio que a beijou de volta, e eu me perdi se quem estava ali era meu tio mesmo. Ela puxou a mochila do sofá e saiu como um furacão. Fui atrás dela acompanhado do meu tio. Então vi que ela estava na moto dela. Colocou o capacete e acelerou de uma única vez, mas na hora de fazer a volta o pneu derrapou no cascalho e a moto a jogou cerca de três metros de distancia. Sai correndo até ela, mas acho que ela tinha absorvido um pouco de mim  naquele momento.
- Sai de perto de mim, Dave. Agora.
- Baby, fica quieta e não se mexe. Você está machucada.
- Sai agora de perto de mim. – Ela falava quase chorando, estava nitidamente sentindo dor.
Meu tio ligou para emergência e quando chegou perto dela, diferente de mim, ela choramingou e segurou a mão dele. Assim que a ambulância chegou e a levaram eu acabei tendo que ficar se não quisesse eu ser o paciente, já que ela estava muito calma comigo.
Fiquei maluco ao restante da tarde sem noticias deles. Era quase sete da noite quando eles chegaram, ela estava com a perna imobilizada e com vários arranhões nos braços.
- Como você está? – perguntei a olhando.
- Cale a boca, não quero ouvir o som da sua voz. – ela disse sem nem me olhar.
Meu tio a ajudava e ria muito de mim sem ela notar. A deixou no sofá enquanto foi buscar água na cozinha que ela usou para tomar um remédio. Ela pediu pra tomar banho e eu me ofereci pra ajuda-la.
- Quebrei a perna e não os braços. Posso tomar banho e me virar sozinha.
- Querida, você vai precisar de ajuda? – Meu tio perguntou de modo que fosse sarcástico pra mim.
- Ah, tio Clint. O senhor poderia me ajudar a proteção na perna para não molhar?
- Claro, minha querida.
Aquilo já era demais pra mim, sai pra esfriar a cabeça. Não entendia o porquê, mas eu merecia aquele tratamento que estava recebendo dela. E me sentindo mal por ter causado nela aquele acidente. Ela tinha viajado por minha causa e eu tinha feito o que fiz com ela. Ela estava certa.
Voltei menos de uma hora depois e meu tio estava sentado vendo TV.
- Onde ela está? – perguntei.
- No quarto, acho até que já dormiu. Estava cansada e com dor, coitadinha.
Eu ia em direção ao quarto de hospedes quando meu tio me advertiu.
- Esse quarto é o meu agora. Ela está no quarto que era da sua tia.
- Por quê?
- Não suportaria ficar naquele quarto sem sua tia por mais de um dia na minha vida. E como não temos outro quarto de hospedes, ela quase me pede pra dormir na calçada quando sugeri seu quarto, ela então ficou lá.
- Vou lá.
- Vá e não seja um idiota grosseirão, pois ela gosta de você.

Entrei no quarto devagar com dois receios, acorda-la e ser atingido por algum objeto que ela viesse a arremessar. Mas por sorte ela estava dormindo.

terça-feira, 11 de março de 2014

ღ Capítulo 7 ღ

Quando em fim me desliguei da viagem que fazia Savana me olhando fixamente e notei que a minha história tinha a tocado. Ninguém além de Lia sabia pelo que tinha passado e naquele momento eu tinha acabado de relatar tudo pra ela, e ela não disse nada. E era o que realmente queria, o silencio era essencial naquela hora, se ela me abraçasse ou fizesse qualquer outra coisa eu iria levar para o lado que ela teve pena de mim, mas só em me escutar ela fez tudo o que eu precisava.
- Você quer sair comigo? – ela perguntou com um timbre de voz marcante, firme.
- Quero sim, vamos.
Saímos e eu sabia que algumas perguntas cercavam ela, e de alguma forma elas tinham que ser respondia. Chegamos numa cafeteria e ela se alegrou em tomar alguma coisa quente, o frio estava realmente muito forte. Sentei numa mesa de canto e ela sentou a minha frente. Ficou me encarando e eu sorri.
- Pergunte, Baby.
- Não. – Ela disse brincando com o copo.
- Vai logo, eu sei que você está cheia de perguntas pra fazer. Não gosto de rodeios, se houverem perguntas que não queira responder, eu não responderei, mas pergunte.
- Pra onde seus foram, o que eles fazem que viajam tanto?
- Club de Motocross. Espíritos aventureiros e livres.
- Vamos visitar seu tio por esses dias?
- Eu sim, você não.
- Por quê?
- Vai fazer o que lá?
- Conhece-lo.
- Quem sabe eu te leve? – Ela se animou de imediato. - Agora toma seu chocolate.
- Eu tenho um irmão mais velho, Steve. Meu pai é fotografo e minha mãe escritora. – Como ela tinha me escutado resolvi a escutar também, apesar do pouco interesse. – Meu irmão é casado com uma francesa e mora lá, contra vontade de todo mundo. Minha família é bem grande. Meus pais moram Miame, moro aqui com a Rebeca desde que comecei a faculdade.
- O que sua mãe tem? – Lembrei sobre o assuntou falado na noite anterior.
- Ah, problemas de respiração. Alguma coisa com os pulmões.
- Ela fuma? – Perguntei de forma sarcástica.
- Nunca fumou. – Ela nem notou meu sarcasmo.
- Ainda bem, assim ninguém nunca poderia culpar meu cigarro se eu adoecesse de pulmão.
- O que tem a ver, Dave?
- Nada, só estou falando. Foi um elogia ao cigarro, cigarro não faz mal.
- Então fume.
- Fumarei, sim.
- Vou visitar minha mãe por esses dias, vamos comigo?
- Não. – respondi comendo meus waffles.
- Mas por quê?
- Porque não estarei afim. Sua mãe, sua casa, sua viagem.
- Nossa, nem sei bem porque te pedi pra ir comigo.
- Eu menos ainda, já imaginaria a resposta.
Uma coisa que eu realmente gostava nela era ela nunca se importar com o que eu falava. Do modo que falava. O que geralmente era um problema nas minhas conversas. Ela apenas me olha levantando a sobrancelha, mas logo dava de ombros.
A deixei em casa no inicio da noite e voltei pra casa, ela não tinha se sentido bem no fim da tarde e disse que queria ir embora.
Passamos quase todas as tardes juntos naqueles dias até a noite dos preparativos de ano novo, ela decidiu passar réveillon com os pais. Eu iria ficar sozinho, como sempre, já que não desejava a companhia de ninguém.
Era perto de meia noite quando sentei no chão da varanda e fiquei olhando a rua, estava bastante movimentada, era legal de ver mas era fora de cogitação está ali. Assim que marcou meia noite e os fogos começaram a brilhar no céu eu fechei a jaqueta e fiquei admirando.  Mas senti algo que me arrancou um sorriso que a tempos eu não dava. As mãos dela me seguraram por trás e ela fez com que meu corpo deitasse no colo dela. Ela nos envolveu com uma manta e me surpreendeu com um beijo no rosto e uma frase que me confortou egoistamente.

- Eu não poderia estar em outro lugar que não fosse ao seu lado neste momento.

ღ Capítulo 6 ღ

Acordamos com o telefone dela tocando.
- É a Beck. Atende, Dave. – Ela falou com uma voz de sono que eu adorava.
- Oi, Rebeca. Porque está ligando tão cedo, o que você quer?
- Não é Rebeca, não é cedo e quero falar com minha filha. – era o pai dela.
- Sim... Um instante.
- O que você é da Savana? – ele perguntou.
- Você ligou pra falar com sua filha.
Savana levantou num sobressalto e arrancou o telefone da minha mão. Enrolada no lençol começou falar com pai e deu sinal que iria pra sala.
- Pai, oi... Feliz natal pra você também. Onde está mamãe?
Tentei voltar a dormir mas não demorou muito para que ela voltasse e me despertasse com um beijo nas costas.
- O que ele queria? – perguntei.
- Feliz natal... Essas coisas.
Dessa vez meu telefone tocou e ela atendeu.
- Olá. Boa tarde, feliz natal também. Dave? Sim, sim, está aqui. Sua mãe – ela sussurrou.
O que foi suficiente para que eu arrancasse o telefone das mãos dela.
- Oi, mãe. – eu disse já sabendo o que viria.
- Sua namorada? Estou tão feliz, meu querido. – a voz da minha mãe estava feliz como eu esperava.
- Para com isso, nada a ver.
- Mas ela...
- Sem essa, mãe. Feliz natal.
- Ah sim, feliz natal. Eu e seu pai te amamos.
- Gosto de vocês.
Meu dialogo com minha mãe era sempre assim, e eu agradecia por não ter muito o que conversar com ela. Mas Savana percebeu que tinha algo errado depois que desliguei. Fiquei sentado ainda segurando o telefone com uma expressão meio perdida. Eu esperava ouvir minha mãe mas não era uma coisa que queria muito.

Quando eu tinha pouco mais de sete anos meus pais foram viajar e me deixaram na casa da minha tia, irmã da minha mãe. Mas sempre arrumavam uma desculpa e uma nova viagem, adiando a volta. Andavam o mundo inteiro e muito raramente me procuravam.
Terminei minha infância ali na casa dos meus tios que muito pouco gostavam de mim e me tratavam como qualquer um, como um intruso que realmente era. Não podia sair de lá por não ter onde ir, não saber como me virar, menos ainda como fazer, e meus pais nunca voltavam pra me tirar dali.
O inicio da adolescência foi quando todos os problemas começarem. Minha tia que não podia ter filhos começou a se afeiçoar a mim, mas meu tio não aceitava isso, e ela acabava vivendo um relacionamento de ‘vai com Deus para o inferno’ o que as vezes diminuía a ausência que meus pais deixavam.
Meus tios tinham uma loja de peças para carros e motos, onde fui obrigado a trabalhar, mas que para mim foi o inicio de uma grande paixão. Já habituado no trabalho, meu tio passou a parar de brigar pelo fato, de segundo ele, ser um inútil. Mas bem por essa época começaram as bebedeiras, os cigarros, as noites acordado e as chegadas de ressaca na loja, sem falar nas brigas que eram muito frequentes.
Aos dezesseis a situação já estava bem insuportável pra mim e para meu tio, o que deixava nítido o sofrimento da minha tia, que por essa altura acabou se apegando demais a mim, por me ver de uma forma que ela não podia me ajudar. Por varias vezes eu e meu tio saímos no braço, o que desgastava a todos, já que nos fins das brigas ambos ficavam muito machucados e minha tia sem saber que posição tomar.
Quando estava com dezoito, a situação tomou um rumo inesperado, minha tia começou a adoecer e tudo que fazíamos era inútil. Deixei de sair, de beber, só pra estar com ela, quando eu estava na loja meu tio ficava em casa e vice-versa. Todas as noites, ficamos tentando de algum modo anima-la e animar a nós mesmo. Foram dois anos de uma batalha, só não perdida, porque conseguimos recuperar algum laço familiar que havia ali. Já quando não haviam mais esperanças e eu não sabia o que seria de mim, sem a única figura materna que pude um dia ter. Mas o inevitável aconteceu e a noticia temida e esperada chegou, minha tia faleceu e deixou o espaço que jamais imaginei que ela ocuparia, foi embora deixando pra trás aqueles a quem ela dedicou a vida e o amor, o filho e o marido.
Voltar pra casa sem minha tia e ter que encarar meu tio foi desgastante de mais, era sofrimento por todos os lados naquela casa e na loja. Então resolvi seguir o caminho que me pareceu o certo naquele momento, ir embora dali junto com a Lia, que sempre me ajudou quando a barra pesava. Ela resolveu ir embora por motivos que até hoje não entendo bem.
Deixei meu tio com o consentimento dele, e com a certeza que de mim jamais ninguém arrancaria nenhum sentimento bom, pois todos eles foram sepultados junto a minha tia que aprendeu a me amar em meio a ruínas que era nossa vida, e me ensinou valores e significados importantes, se eu não tinha ela não me importava mais ninguém.
Meus pais apareceram algumas mínimas vezes durante o tempo em que minha tia estava doente, mas todas as vezes relutei em deixa-la para seguir com eles, eles não tinham feito por mim nada mais que me porem no mundo e me jogarem a ele.
Nunca deixei meu tio de fato, sempre que podia ia visita-lo, e como sempre admirar nossa única paixão, motos.

Em relação aos meus pais, nunca os ignorei, nunca os menosprezei, não precisava me preocupar com isso, a ausência deles não eram nada comparadas a da minha tia, e desse dia e então, segui minha vida com breves telefonemas em datas especiais e breves visitas.

segunda-feira, 10 de março de 2014

ღ Capítulo 5 ღ

Quase todos os dias almoçávamos juntos, a companhia dela era agradável. Ela tinha uma conversa prazerosa e assuntos que me atraiam, nada igual a garotas com quem eu já havia saindo. Logo ela já conhecia coisas do meu trabalho e inúmeras vezes nos ajudava com os clientes. Ia comigo aos shows que eu tocava, curtia minhas bebedeiras e ainda me levava pra casa. Mas quando ele batia o pé que queria ir embora cedo, eu acabava cedendo e ia embora com ela, rara as vezes que a deixei ir embora sozinha desde que começamos a sair, algo em mim pediu que eu cuidasse dela. Talvez por ela ser tão nova eu a julgava indefesa.
Quando ela começou a trabalhar na revista fazendo as fotos, não a suportei comigo por mais de uma hora, mas também não a deixei longe por mais de vinte minutos. Eu nunca tinha visto tanta felicidades numa pessoa só.
Quando o final daquele ano chegou, já se passavam quatro meses desde que ela estava na minha vida. E de uma forma especial ela estava animada para aquele natal. Pediu muito para que passássemos só nós, mas como nunca me importei com isso de datas especiais, acabei chamando a Lia, o Brad, namorado dela e o Logan com a esposa Meyer e a filha, Lis. A carinha dela de zangada fez com que eu notasse que aqueles preparativos todos eram para nós dois.
- Lia, você vai ter que me ajudar. Temos que fazer alguma coisa, eu não imaginava que vocês viriam.
- Nada disso, vamos sair. – Lia respondeu já animada.
- Mas restaurante em noite de natal será difícil de achar. – ela disse desanimada.
- Deixa disso, Baby. Vamos achar algo. – eu as interrompi abraçando a Lia.
Acabamos saindo e indo a um bar perto de casa. O desconforto no rosto da Meyer e do Logan era notável, a Lis já dormia no colo do Logan e eles resolveram ir embora. Savana ficou perto de mim, mas não quis beber nada, nem conversar. Já eu, Lia e Brad, comemorávamos o natal.
Era quase duas horas da manhã quando vi a Rebeca entrar no bar, acenou pra gente e veio em direção  amiga.
- Feliz natal, Sav. – Ela disse ainda abraçada com Savana.
- Feliz natal, Beck. – Savana entregou a Rebeca um pequeno embrulho que tirou da pequena bolsa que estava com ela.
Elas tornaram a se abraçar e então percebi que a hora de falar feliz natal havia passado. Rebeca cumprimentou todo mundo com o entusiasmo que eu admirava. Até brincou com o cabelo da Lia que em homenagem a data, estava vermelho e verde.
- Sav, temos que ir agora. – Rebeca falou depois de uns minutos.
- Ah, é verdade. – Savana levantou, pegou a bolsa e foi falando feliz natal e saindo. Estranhei e levantei indo atrás. Quando abri a porta do bar estava caindo neve e elas duas estavam admirando e sorrindo.
- Onde vocês estão indo?
- Pra casa. Nossos pais estão chegando amanhã cedo. E queremos ir busca-los. – Rebeca quem respondeu.
- Cedo que horas? – perguntei.
- Umas oitos horas...
- Não, umas cinco. – Savana a interrompeu.
- Não, Sav... Ah, sim, é. Cinco horas. – percebi a cumplicidade das duas de imediato.
- Você veio de que, Rebeca?
- Vim de táxi, Dave.
- Entrem no carro – falei entregando a chave a Sanava – e me esperem.
Foi o tempo de me despedir da Lia e do Brad e voltar. Elas estavam sentadas juntas no banco de trás.
- Vem pra frente, Baby. – Falei abrindo a porta.
- Aqui tá legal. -  Ela respondeu sem nem me olhar.
- Vem, Beck. – essa nem esperou eu fechar a boca. Já estava sentada.
Meu carro, um dodge charger, seguimos pra casa delas e Rebeca cantava o tempo inteiro junto com o som do meu carro. O que era bom, pois o silencio entre eu e Savana era incomodo. Quando chegamos, enquanto eu e Rebeca saiamos ela já estava subindo as escadas. A chamei mas foi inútil.
- Dave, espera. – Rebeca me chamou quando já ia entrando no carro. – A Sav está chateada com você.
- Mesmo? Mas acontece que eu já tinha notado.
- Mas ela tem motivos.
- Tem? – eu perguntei realmente surpreso.
- Hoje é aniversario dela e ela tinha te falado isso semana passado. – Realmente, ela tinha falado e eu esquecido por completo. – E ela tinha preparado, uma coisa especial pra comemorar natal e o aniversario. E você não notou e ainda colocou outras pessoas na comemoração da data. Por isso ela me ligou lá do bar...
- Te ligou? – A interrompi.
- Sim, queria que eu a tirasse de lá o mais depressa possível. Pois além de sem natal, sem aniversario, sem eu e sem a moto, os pais dela não poderão vir. A Mãe dela piorou ontem  e não tem como viajarem.
- O que houve com a moto? E como a mãe piorou? Ela não mencionou que a mãe estava doente.
- Está, e bastante mal. E a moto quebrou novamente, não sei o que exatamente.
Me senti estranho. Queria ajuda-la, mas nem sabia o que estava acontecendo. E pra piorar, tinha esquecido o aniversario dela. Fiquei sem ideia para fazer algo que pudesse ajuda-la.
- Porque você não sobe e fala com ela? Aposto que ela vai gostar.
- Queria era leva-la pra casa. – falei sentando no batente e Rebeca sentou do meu lado.
- Acho uma boa ideia. Assim ela não fica tão triste quando meus pais chegarem amanhã. Sobe e tenta conversar com ela, vai. Depois eu subo, conversem a vontade.
Eu subi e já meio acostumado com o jeito dela sabia que estaria sentada em algum lugar quieta e pensando. E estava certo. Entrei devagar e fui direto ao quarto dela, ela estava sentada no chão, com a cabeça na cama. Sentiu quando eu sentei na cama e me olhou mordendo o lábio e vi que chorava. Me senti angustiado como nunca antes tinha ficado em ver alguém daquele jeito. Tirei a jaqueta, o sapato, a peguei pelo braço e deitei na cama dela trazendo pro meu peito, ela tentou lutar mas a prendi com força. Ficou ali deitada por uns longos minutos, até que levantou e sentou ainda segurando minha mão, puxei o cabelo dela e ela fez a tradicional cara feia que sempre fazia quando eu brincava quando estava zangada.
- Vamos pra minha casa? – perguntei beijando o rosto dela.
- Não quero. – respondeu de modo que eu sabia que era um sim.
- Pega sua bolsa enquanto coloco o sapato.
Demorou cerca de vinte minutos até ela ficar pronta e resolver sair do quarto, mas saiu. Chegando ao portão, Rebeca tomava vinho com o porteiro e ouvia alguma música brasileira que eu não entendia nada.
- Resolveram se entender, fico feliz. – Rebeca falou levantando-se.
- Fica bem, e mande abraço pra tia e para o tio.
- Pode deixar.
Elas tornaram a se abraçar pela milésima vez aquela noite. No caminho pra casa Savana foi mexendo no meu cabelo o tempo inteiro. Aquele carinho dela era tão delicado que se tornava uma característica inteiramente dela. Assim que chegamos, ela se aninhou na cama. Não sabia bem como agir, ela estava triste por inúmeros motivos, e um deles era eu.
Tirei o excesso de roupa dela e deixei de um jeito que sabia que ela ficaria a vontade. Fui até a cozinha e trouxe um pedaço do bolo que ela tinha feito. Voltei ao quarto, peguei meu violão e sentei na cama. Empurrei o prato com o bolo até ela, o que chamou atenção. Ela virou delicadamente pra mim e me encarou com ternura. Sorri de volta e comecei a cantar e tocar sua musica favorita.
- Feliz aniversário, Baby.
O sorriso e o pulo que ela deu por cima de mim só reafirmando o que eu já sabia, eu era importante pra ela. E de alguma forma, ainda desconhecida, ela também era importante pra mim. Pois em nenhum momento da minha vida eu me importei com se alguém estivesse mal e era obrigação minha fazer o bem àquela pessoa. Mas aquela pessoa que estava em meus braços era diferente, não sabia exatamente até onde era, mas era. E não pretendia vê-la chorar outra vez, aquilo era ruim e me incomodava. Nada em relação a ela era claro pra mim.
Cantei mais algumas músicas até ela roubar toda minha concentração de vez, uma segunda mordida no pescoço fez com que meu foco mudasse. O corpo dela tão próximo ao meu, a mão deslizando pelo um corpo, os lábios marcando por beijos cada canto que ela passava, aquela pele tão delicada que me enlouquecia cada vez que tocava. A queria cada vez mais que a anterior. Ter ela sendo minha era a certeza de que tudo estava bem em qualquer lugar do mundo. Cada gesto dela, cada movimento, ritmava com meu corpo, formavam um contexto preciso.  Cada minuto era único, e o gosto dela era o meu. Sentir o corpo dela sobre o meu, ainda cansada mas sorrindo, me fazia ter ali o pleno prazer. Alguma coisa nela era incomum em mim, mas eu não estava nem um pouco a fim de descobrir o que era não me interessava. O que me interessava era  ela naquele momento e em todos os momentos que ela fosse minha, e disso eu não abria mão, ter ela sorrindo após o ultimo beijo.