Quase todos os dias almoçávamos juntos, a companhia dela era agradável. Ela tinha uma conversa prazerosa e assuntos que me atraiam, nada igual a garotas com quem eu já havia saindo. Logo ela já conhecia coisas do meu trabalho e inúmeras vezes nos ajudava com os clientes. Ia comigo aos shows que eu tocava, curtia minhas bebedeiras e ainda me levava pra casa. Mas quando ele batia o pé que queria ir embora cedo, eu acabava cedendo e ia embora com ela, rara as vezes que a deixei ir embora sozinha desde que começamos a sair, algo em mim pediu que eu cuidasse dela. Talvez por ela ser tão nova eu a julgava indefesa.
Quando ela começou a trabalhar na revista fazendo as fotos, não a suportei comigo por mais de uma hora, mas também não a deixei longe por mais de vinte minutos. Eu nunca tinha visto tanta felicidades numa pessoa só.
Quando o final daquele ano chegou, já se passavam quatro meses desde que ela estava na minha vida. E de uma forma especial ela estava animada para aquele natal. Pediu muito para que passássemos só nós, mas como nunca me importei com isso de datas especiais, acabei chamando a Lia, o Brad, namorado dela e o Logan com a esposa Meyer e a filha, Lis. A carinha dela de zangada fez com que eu notasse que aqueles preparativos todos eram para nós dois.
- Lia, você vai ter que me ajudar. Temos que fazer alguma coisa, eu não imaginava que vocês viriam.
- Nada disso, vamos sair. – Lia respondeu já animada.
- Mas restaurante em noite de natal será difícil de achar. – ela disse desanimada.
- Deixa disso, Baby. Vamos achar algo. – eu as interrompi abraçando a Lia.
Acabamos saindo e indo a um bar perto de casa. O desconforto no rosto da Meyer e do Logan era notável, a Lis já dormia no colo do Logan e eles resolveram ir embora. Savana ficou perto de mim, mas não quis beber nada, nem conversar. Já eu, Lia e Brad, comemorávamos o natal.
Era quase duas horas da manhã quando vi a Rebeca entrar no bar, acenou pra gente e veio em direção amiga.
- Feliz natal, Sav. – Ela disse ainda abraçada com Savana.
- Feliz natal, Beck. – Savana entregou a Rebeca um pequeno embrulho que tirou da pequena bolsa que estava com ela.
Elas tornaram a se abraçar e então percebi que a hora de falar feliz natal havia passado. Rebeca cumprimentou todo mundo com o entusiasmo que eu admirava. Até brincou com o cabelo da Lia que em homenagem a data, estava vermelho e verde.
- Sav, temos que ir agora. – Rebeca falou depois de uns minutos.
- Ah, é verdade. – Savana levantou, pegou a bolsa e foi falando feliz natal e saindo. Estranhei e levantei indo atrás. Quando abri a porta do bar estava caindo neve e elas duas estavam admirando e sorrindo.
- Onde vocês estão indo?
- Pra casa. Nossos pais estão chegando amanhã cedo. E queremos ir busca-los. – Rebeca quem respondeu.
- Cedo que horas? – perguntei.
- Umas oitos horas...
- Não, umas cinco. – Savana a interrompeu.
- Não, Sav... Ah, sim, é. Cinco horas. – percebi a cumplicidade das duas de imediato.
- Você veio de que, Rebeca?
- Vim de táxi, Dave.
- Entrem no carro – falei entregando a chave a Sanava – e me esperem.
Foi o tempo de me despedir da Lia e do Brad e voltar. Elas estavam sentadas juntas no banco de trás.
- Vem pra frente, Baby. – Falei abrindo a porta.
- Aqui tá legal. - Ela respondeu sem nem me olhar.
- Vem, Beck. – essa nem esperou eu fechar a boca. Já estava sentada.
Meu carro, um dodge charger, seguimos pra casa delas e Rebeca cantava o tempo inteiro junto com o som do meu carro. O que era bom, pois o silencio entre eu e Savana era incomodo. Quando chegamos, enquanto eu e Rebeca saiamos ela já estava subindo as escadas. A chamei mas foi inútil.
- Dave, espera. – Rebeca me chamou quando já ia entrando no carro. – A Sav está chateada com você.
- Mesmo? Mas acontece que eu já tinha notado.
- Mas ela tem motivos.
- Tem? – eu perguntei realmente surpreso.
- Hoje é aniversario dela e ela tinha te falado isso semana passado. – Realmente, ela tinha falado e eu esquecido por completo. – E ela tinha preparado, uma coisa especial pra comemorar natal e o aniversario. E você não notou e ainda colocou outras pessoas na comemoração da data. Por isso ela me ligou lá do bar...
- Te ligou? – A interrompi.
- Sim, queria que eu a tirasse de lá o mais depressa possível. Pois além de sem natal, sem aniversario, sem eu e sem a moto, os pais dela não poderão vir. A Mãe dela piorou ontem e não tem como viajarem.
- O que houve com a moto? E como a mãe piorou? Ela não mencionou que a mãe estava doente.
- Está, e bastante mal. E a moto quebrou novamente, não sei o que exatamente.
Me senti estranho. Queria ajuda-la, mas nem sabia o que estava acontecendo. E pra piorar, tinha esquecido o aniversario dela. Fiquei sem ideia para fazer algo que pudesse ajuda-la.
- Porque você não sobe e fala com ela? Aposto que ela vai gostar.
- Queria era leva-la pra casa. – falei sentando no batente e Rebeca sentou do meu lado.
- Acho uma boa ideia. Assim ela não fica tão triste quando meus pais chegarem amanhã. Sobe e tenta conversar com ela, vai. Depois eu subo, conversem a vontade.
Eu subi e já meio acostumado com o jeito dela sabia que estaria sentada em algum lugar quieta e pensando. E estava certo. Entrei devagar e fui direto ao quarto dela, ela estava sentada no chão, com a cabeça na cama. Sentiu quando eu sentei na cama e me olhou mordendo o lábio e vi que chorava. Me senti angustiado como nunca antes tinha ficado em ver alguém daquele jeito. Tirei a jaqueta, o sapato, a peguei pelo braço e deitei na cama dela trazendo pro meu peito, ela tentou lutar mas a prendi com força. Ficou ali deitada por uns longos minutos, até que levantou e sentou ainda segurando minha mão, puxei o cabelo dela e ela fez a tradicional cara feia que sempre fazia quando eu brincava quando estava zangada.
- Vamos pra minha casa? – perguntei beijando o rosto dela.
- Não quero. – respondeu de modo que eu sabia que era um sim.
- Pega sua bolsa enquanto coloco o sapato.
Demorou cerca de vinte minutos até ela ficar pronta e resolver sair do quarto, mas saiu. Chegando ao portão, Rebeca tomava vinho com o porteiro e ouvia alguma música brasileira que eu não entendia nada.
- Resolveram se entender, fico feliz. – Rebeca falou levantando-se.
- Fica bem, e mande abraço pra tia e para o tio.
- Pode deixar.
Elas tornaram a se abraçar pela milésima vez aquela noite. No caminho pra casa Savana foi mexendo no meu cabelo o tempo inteiro. Aquele carinho dela era tão delicado que se tornava uma característica inteiramente dela. Assim que chegamos, ela se aninhou na cama. Não sabia bem como agir, ela estava triste por inúmeros motivos, e um deles era eu.
Tirei o excesso de roupa dela e deixei de um jeito que sabia que ela ficaria a vontade. Fui até a cozinha e trouxe um pedaço do bolo que ela tinha feito. Voltei ao quarto, peguei meu violão e sentei na cama. Empurrei o prato com o bolo até ela, o que chamou atenção. Ela virou delicadamente pra mim e me encarou com ternura. Sorri de volta e comecei a cantar e tocar sua musica favorita.
- Feliz aniversário, Baby.
O sorriso e o pulo que ela deu por cima de mim só reafirmando o que eu já sabia, eu era importante pra ela. E de alguma forma, ainda desconhecida, ela também era importante pra mim. Pois em nenhum momento da minha vida eu me importei com se alguém estivesse mal e era obrigação minha fazer o bem àquela pessoa. Mas aquela pessoa que estava em meus braços era diferente, não sabia exatamente até onde era, mas era. E não pretendia vê-la chorar outra vez, aquilo era ruim e me incomodava. Nada em relação a ela era claro pra mim.
Cantei mais algumas músicas até ela roubar toda minha concentração de vez, uma segunda mordida no pescoço fez com que meu foco mudasse. O corpo dela tão próximo ao meu, a mão deslizando pelo um corpo, os lábios marcando por beijos cada canto que ela passava, aquela pele tão delicada que me enlouquecia cada vez que tocava. A queria cada vez mais que a anterior. Ter ela sendo minha era a certeza de que tudo estava bem em qualquer lugar do mundo. Cada gesto dela, cada movimento, ritmava com meu corpo, formavam um contexto preciso. Cada minuto era único, e o gosto dela era o meu. Sentir o corpo dela sobre o meu, ainda cansada mas sorrindo, me fazia ter ali o pleno prazer. Alguma coisa nela era incomum em mim, mas eu não estava nem um pouco a fim de descobrir o que era não me interessava. O que me interessava era ela naquele momento e em todos os momentos que ela fosse minha, e disso eu não abria mão, ter ela sorrindo após o ultimo beijo.
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