Segundo dia do ano e Savana estava na casa dos
pais, tínhamos todos aproveitados os dez primeiros dias do ano para viagens e
pequenas férias. Resolvi ir até Phoenix visitar meu tio, a conversa de dias
anteriores me fizeram sentir a vontade de visita-lo.
Sturm estava pronta pra viagem, e eu de alguma
forma aliviado. Assim que cheguei, na frente da loja, um misto de lembranças,
boas e ruins me invadiram. E como esperado, meu tio estava lá a minha espera,
nos cumprimentamos como sempre fazíamos e a eterna conversa sobre motos nos
tomaram bastante tempo. Conheci o Phil, o novo ajudante do meu tio, que cuidava
da administração da loja.
Reservamos o restante da tarde para irmos ao bar
que ficava a duas quadras da loja. A conversa estendeu-se pela noite e só
chegamos de madrugada.
Acordei depois, meu tio estava batendo na porta do
meu quarto, que continuava intacto. Já havia algum tempo que não bebia da forma
que bebi na noite anterior, por tanto estava com uma dura ressaca e muito mal
humorado.
- Tem visita pra você na sala. – Meu tio avisou.
- Pra mim? Quem droga está ai?
- Não sei, acabei de conhecer. Mas bela garotinha
você tem, hein?
Não poderia ser quem eu estava pensando, como ela
tinha chego ali era a pergunta que me tomou naquele instante. Cheguei na sala
tonto, só de calça e com o humor pior ainda.
- Como você me achou? – Perguntei assim que a
avistei.
- Oi. - O entusiasmo dela era notável a quilômetros
de distâncias.
- Como você me achou? – Tornei a perguntar.
- Cheguei de viagem e fui te procurar, mas você não
estava e o porteiro do seu prédio falou que você havia viajado. Tentei te
ligar, mas não consegui. Então falei com a Lia e ela me falou onde você estava,
e bom, chegar aqui e achar a loja do seu tio não foi nada difícil depois das
dicas da Lia, chegando lá o Phil me ensinou a casa e aqui estou. Quis te
surpreender.
- Eu gostei muito. – Meu tio falou abrindo uma lata
de cerveja e nos observando como espectador, ele provavelmente sabia o que
viria pela frente.
- Eu vim pra passar os dias que você ficar aqui com
você.
- Como é? Vim sozinho e continuarei sozinho. Você
nem deveria estar aqui. Você não estava com seus pais?
- Mas Dave...
- Mas nada. – A interrompi. – Eu disse a você que
você não viria aqui comigo, lembra? Eu disse que um dia quem sabe te traria
aqui. Agora vai embora.
- A garota vai ficar. – Meu tio interviu quando
notou que Savana ficou acuada parecendo criança – O que é isso, Dave? Não se
fala assim com a namorada.
Peguei a chave da moto que estava na mesa de centro
e já estava saindo quando Savana foi mais rápida que eu e ficou na frente da
porta impedindo minha saída.
- Para ai agora, meu bem. – ela gritou firme –
Cansei das suas grosserias, ignorâncias e explosões do nada. Com você só faço
coisas para te alegra, para te agradar, mas nada, absolutamente nada que eu
faça é bom o suficiente para evitar que você simplesmente exploda o mundo e
queira me explodir junto. Nunca te pedi nada em troca do que fiz e faço, mas um
pouco de educação não te fariam mal. Mas você não sabe o que é isso, nem se
quer se esforça pra tentar entender que o que eu faço é pra você, mas você sabe
o que é pancada, pontapés e o diabo todo. Certo, nunca reclamei, mas acho que
já chega, não é? Fique ai com suas grosserias, curta sua bebedeira, e minha
distância, que será bastante presente para você. E eu vou embora sim, atendendo
o seu pedido. Nunca mais farei surpresa, carinho, nem porcaria nenhuma que
envolva você. Ah, e vá para o inferno seu idiota grosseirão.
Ela beijou o rosto do meu tio que a beijou de
volta, e eu me perdi se quem estava ali era meu tio mesmo. Ela puxou a mochila
do sofá e saiu como um furacão. Fui atrás dela acompanhado do meu tio. Então vi
que ela estava na moto dela. Colocou o capacete e acelerou de uma única vez,
mas na hora de fazer a volta o pneu derrapou no cascalho e a moto a jogou cerca
de três metros de distancia. Sai correndo até ela, mas acho que ela tinha
absorvido um pouco de mim naquele
momento.
- Sai de perto de mim, Dave. Agora.
- Baby, fica quieta e não se mexe. Você está
machucada.
- Sai agora de perto de mim. – Ela falava quase
chorando, estava nitidamente sentindo dor.
Meu tio ligou para emergência e quando chegou perto
dela, diferente de mim, ela choramingou e segurou a mão dele. Assim que a
ambulância chegou e a levaram eu acabei tendo que ficar se não quisesse eu ser
o paciente, já que ela estava muito calma comigo.
Fiquei maluco ao restante da tarde sem noticias
deles. Era quase sete da noite quando eles chegaram, ela estava com a perna
imobilizada e com vários arranhões nos braços.
- Como você está? – perguntei a olhando.
- Cale a boca, não quero ouvir o som da sua voz. –
ela disse sem nem me olhar.
Meu tio a ajudava e ria muito de mim sem ela notar.
A deixou no sofá enquanto foi buscar água na cozinha que ela usou para tomar um
remédio. Ela pediu pra tomar banho e eu me ofereci pra ajuda-la.
- Quebrei a perna e não os braços. Posso tomar
banho e me virar sozinha.
- Querida, você vai precisar de ajuda? – Meu tio
perguntou de modo que fosse sarcástico pra mim.
- Ah, tio Clint. O senhor poderia me ajudar a
proteção na perna para não molhar?
- Claro, minha querida.
Aquilo já era demais pra mim, sai pra esfriar a
cabeça. Não entendia o porquê, mas eu merecia aquele tratamento que estava
recebendo dela. E me sentindo mal por ter causado nela aquele acidente. Ela tinha
viajado por minha causa e eu tinha feito o que fiz com ela. Ela estava certa.
Voltei menos de uma hora depois e meu tio estava
sentado vendo TV.
- Onde ela está? – perguntei.
- No quarto, acho até que já dormiu. Estava cansada
e com dor, coitadinha.
Eu ia em direção ao quarto de hospedes quando meu
tio me advertiu.
- Esse quarto é o meu agora. Ela está no quarto que
era da sua tia.
- Por quê?
- Não suportaria ficar naquele quarto sem sua tia
por mais de um dia na minha vida. E como não temos outro quarto de hospedes,
ela quase me pede pra dormir na calçada quando sugeri seu quarto, ela então
ficou lá.
- Vou lá.
- Vá e não seja um idiota grosseirão, pois ela
gosta de você.
Entrei no quarto devagar com dois receios,
acorda-la e ser atingido por algum objeto que ela viesse a arremessar. Mas por
sorte ela estava dormindo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário